Nessa trajetória, quatro álbuns, entre eles um realizado no Brasil, evidenciam momentos específicos de sua atividade como gravador. Três encontram-se aqui expostos: Uma doce criatura, com cinco litografias caracterizadas por angulações e economia dos traços na construção dos personagens, e foi inspirado no conto Uma criatura dócil de Fiódor Dostoiévski. Bubu, com oito litografias, foi baseado no romance Bubu de Montparnasse, de Charles-Louis Philippe, e cujas gravuras transmitem as angústias e melancolias existenciais da época e de um artista nascido no final do século XIX, sob a tutela da cultura russa e em busca de novos caminhos para a sua produção. Mangue, álbum produzido após a incursão de Segall pelo universo da prostituição carioca na região que dá nome à obra, retoma uma temática já explorada por ele no período alemão. Lançado em 1944 por iniciativa de Murilo Miranda, este álbum é considerado como um dos mais importantes livros de artistas do Brasil, e está composto de três xilogravuras, uma litografia e 42 zincografias de desenhos esparsos realizados ao longo de duas décadas – anotações e estudos que serviriam de ponto de partida para pinturas. Mangue conta com apresentações de Jorge de Lima, Mário de Andrade e Manuel Bandeira.
Esses álbuns revelam a maestria técnica e formal de Lasar Segall no campo da gravura, além de suas preocupações sociais, já que ao longo de toda carreira tratou de temas como violência, submissão e opressão, e soube olhar com sensibilidade e empatia para o mundo nos dois lados do Atlântico. Como escreve Manuel Bandeira no texto de apresentação de Mangue, Segall debruçou-se “sobre as almas mais solitárias e amarguradas daquele mundo de perdição, como já se debruçara sobre as almas mais solitárias e amarguradas do mundo judeu, sobre as vítimas dos pogroms, sobre o convés da terceira classe dos transatlânticos de luxo”.
Serviço
Abertura 20 de março de 2019
Exposição em cartaz até 03 de junho de 2019